Avaliamos a aventureira da Honda, uma das últimas autênticas maxitrail do mercado.
Foram 1 000 quilômetros rodados com uma moto, e não foi o tradicional
superteste do mês! O destino? A bela Curitiba, capital do Paraná. A
motocicleta? Um modelo que anda “sumido”, mas segue à venda nas
concessionárias da marca: a veterana Honda XL 700V Transalp.
Ao montar na moto, alguns detalhes como retrovisor, manopla e
punhos deixam evidente a idade do projeto. A estética divide opiniões,
mas particularmente gostei. Característica comum nas motocicletas da
Honda, a Transalp é fácil de pilotar, equilibrada e com um conjunto
muito bem resolvido. Os 214 kg em ordem de marcha parecem sumir quando
se está em movimento. Para o piloto, a posição
é confortável, ereta, e garante condição para enfrentar o uso na cidade
e nas estradas, incluindo caminhos irregulares. A posição de pilotagem
em pé também é acertada e o piloto se “encaixa” bem na moto.
Na estrada, o pequeno para-brisa deixa a desejar, influindo negativamente no conforto
e pede uma substituição rápida por um modelo maior, caso você seja um
autêntico mototurista. Os protetores de mão são bons na estrada e na
terra, porém, no uso urbano diário, complicam a vida do condutor nos
estreitos corredores formados entre os carros, pois aumentam a largura
da moto. Para o garupa, o largo assento em dois níveis garante boa
posição e conforto de sobra para enfrentar viagens longas, sem cansar.
No entanto, a alça que faz parte do bagageiro, item de série, não tem
boa ergonomia para um apoio confortável das mãos.
Quem tem a missão de empurrar o modelo é um propulsor
bicilíndrico em V, com 52° de inclinação e 680,2 cm³ de cilindrada. Esse
ângulo pretende reduzir as vibrações (e funciona!), situação comum em
alta velocidade
na concorrente Kawasaki Versys 650, por exemplo, com seu potente
bicilíndrico. As curvas de torque e potência são bem lineares e não
exigem grande técnica de pilotagem do seu condutor. O escalonamento do
preciso câmbio de cinco velocidades também visa não fornecer muita
potência na primeira marcha, onde desenvolve apenas 10,5 cv, contra 43
cv na segunda. Tudo isso a coloca como uma boa opção para quem está
subindo das 250/300. Não é a mais potente da categoria, nem a mais
“torcuda”, entretanto, fornece mais que o necessário para 99% dos
motociclistas não esconderem o sorriso após um passeio com ela.
Conta com arrefecimento a líquido e funciona com muita precisão.
Durante a viagem, o indicador de temperatura manteve-se praticamente
travado em 78°C, e na cidade, no anda e para rotineiro, chegava a 98°C.
Em resumo, é um motor “racional” em relação às principais concorrentes,
porém, mais divertido, esperto e beberrão do que a “irmã” NC 700X, com
seu manso e muito econômico motor. Por falar em consumo, nas medições
realizadas em variadas situações, ficou entre 16 e 20,5 km/litro, o que
faz a autonomia variar entre 280 km e 358 km.
A versão avaliada não tinha freios ABS, mas o sensor de velocidade,
instalado na roda traseira, gerou muitas dúvidas em quem viu a moto.
“Ela tem ABS só na traseira, não é mesmo?” Essa foi uma pergunta que
ouvi ao menos cinco vezes durante o período do teste. O sistema de
freios C-ABS é oferecido como opcional, por R$ 2 000 adicionais. Seu
funcionamento é equivalente ao usado na família 300 (CB e XRE) e já
existem sistemas mais eficientes, disponíveis nas concorrentes. Os
freios, com dois discos na dianteira e um na traseira, mesmo sem ABS,
tem bom tato e funcionam bem, inclusive em frenagens emergenciais.
Os pneus Bridgestone, com perfil mais off que a maioria das maxitrail
atuais, tem bom grip e permitem boa inclinação nas curvas, o que torna
os trechos de serra na estrada pura diversão! Em terrenos de terra
batida e cascalho, pilotando em pé, na posição off-road, o conjunto
funcionou bem, melhor que o esperado, permitindo alguns abusos, sem
perder o controle. O sistema de iluminação é eficiente, sob medida e
garante segurança ao pilotar à noite. Ainda falando em segurança, a
Transalp conta com chave codificada e imobilizador (sistema H.I.S.S.), o
que impede a ativação da moto por violação da ignição.
Conclusão:
Mesmo em se tratando de um projeto que já pede atualização estética, a
Transalp convence com seu conjunto funcional. Não por acaso, vende mais
que Kawasaki Versys 650 e Suzuki V-Strom 650 juntas, segundo dados da
Fenabrave do primeiro semestre de 2013. A ampla rede concessionária
colabora muito para essa realidade, mas, além disso, ela prova que tem
um ótimo custo-benefício (sim, ela poderia custar menos pela idade do
projeto) e dependendo das suas preferências – mais terra e menos asfalto
– é mais adequada que a moderna NC 700X, que, assim como a maioria das
novas maxitrail, privilegia muito mais o uso no asfalto. Essa diferença
de comportamento justifica o porquê de ela ainda estar no line up da
marca, firme e forte. Se você quer uma motocicleta confiável, se
preocupa mais com o prazer ao pilotar do que com a aparência e pretende
acelerar também nas estradas de terra (sem exageros), a Transalp pode te
surpreender.
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